(a fotografia do Taígeto foi retirada daqui, onde podes ver mais fotografias. Clica sobre o sublinhado)
Esparta está situada no alto vale do rio Eurotas. (…) Foi,
outrora, a mais poderosa cidade helénica. Não eram, porém, as muralhas que
constituíam a sua força – pois Esparta não as tinha –, mas sim a coragem e a
unidade dos seus cidadãos. (…)
Os Espartanos
reservaram para si o rico vale do Eurotas e dividiram-no em parcelas iguais,
que não podiam ser mais divididas; quando um homem tinha mais de um filho,
todos eles herdavam do domínio indiviso. (…)
O Espartano não se preocupava com trabalhar a sua terra. O
trabalho necessário à sua manutenção e à da sua família estava reservado aos hilotas. Tem-se dito que os hilotas
eram escravos; mas não o eram, de facto, no sentido habitual do termo. É
verdade que cada hilota tinha um senhor, mas este senhor não era o seu
possuidor; o senhor não podia vender o hilota, expulsá-lo, matá-lo ou
maltratá-lo; também não podia libertá-lo Com efeito, os hilotas eram propriedade
da nação, uma espécie de servos do Estado,
postos à disposição de particulares para o trabalho da terra. O hilota não
estava ligado a um proprietário mas, à terra. Não podia deixar a
terra, mas também não podia ser dela expulso. A sua sorte era nitidamente
melhor que o do escravo. Podia possuir a sua casa, viver com a sua família no
pedaço de terra que era encarregado de cultivar, mas todos os anos era obrigado
a fornecer ao proprietário uma determinada quantidade de trigo, vinho e azeite.
Têm-se escrito terríveis relatos sobre a crueldade dos
espartanos para com os hilotas. Estes seriam, por exemplo, forçados a
embriagar-se, para que isso servisse de lição de continência para os jovens
espartanos; de tempos a tempos organizar-se-iam, também, caçadas em que o hilota
era a caça. Não há dúvida de que os espartanos tratavam os seus subordinados
com crueldade e dureza – mostravam, aliás, a mesma dureza para consigo
próprios. (…)
O espartano considerava o artesanato e o comércio indignos
de si, exactamente como o trabalho da terra. A lei proibia-lhe formalmente
ganhar a vida com o seu trabalho; devia consagrar-se inteiramente à actividade
das armas e à política. Eram os periecos
que exerciam as funções de artífices e de mercadores. No entanto, o comércio
limitava-se quase por completo à província da Lacónia, baseando-se na troca
directa, sendo o dinheiro quase desnecessário.
Aos sete anos, o rapaz era retirado aos pais, para que
estes o não estragassem com mimos. O Estado encarregava-se, então, da sua
educação. As crianças eram agrupadas sob as ordens de homens novos e hábeis.
Deveriam exercitar-se todos os dias na luta, na natação, nas corridas, no
lançamento do dardo e noutros desportos que preparassem para o combate. Logo
que se oferecia a oportunidade, esses homens levavam os rapazes a lutar uns com
os outros. Estes deviam treinar-se e suportar a dor, a fome e o frio sem o
menor queixume. Não usavam sapatos, a fim de endurecerem os pés. Todos os dias
do ano eram obrigados a nadar no Eurotas. Não andavam mais agasalhados no
Inverno do que no Verão. Mais tarde levavam-nos, uma vez por ano, perante o
altar de Artemisa para lhes baterem até fazer sangue; não foram poucos os
jovens espartanos que morreram sem um queixume, sob o chicote. Os jovens
recebiam uma alimentação muito simples e quase sempre insuficiente, mas estavam
autorizados a roubar para matarem a fome. Quem fosse apanhado em flagrante
delito de roubo era sovado – não por causa do roubo, mas por se ter deixado
apanhar. Este método pretendia ensinar aos rapazes a manha e os estratagemas
engenhosos que lhes viriam a ser necessários quando tivessem que combater.
A educação intelectual do jovem espartano compreendia um
pouco de leitura e de escrita. Mas ele aprendia sobretudo a “dizer muita coisa
em poucas palavras”. Ainda hoje se chama lacónico
a este modo de falar. Existem vários exemplos célebres de respostas
lacónicas. Um ateniense que ridicularizava os Espartanos por causa das suas
espadas curtas ouviu como resposta: «Têm o comprimento suficiente para atingir
os nossos inimigos.» Filipe da Macedónia, que queria submeter toda a Grécia,
disse um dia ao embaixador de Esparta: «Se eu entrar em Esparta, não deixarei
pedra sobre pedra.» «Sim», respondeu o espartano, «se…»
3. o dia-a-dia
Um treino tão severo fez dos espartanos os melhores
soldados de infantaria de toda a Grécia. Quando soava a a trombeta da guerra, o
exército de Esparta, composto por cidadãos-soldados fortemente armados, os hoplitas, avançava no campo de
batalha. O hoplita ia armado de lança e de um pesadíssimo sabre. Usava elmo,
couraça e escarcela e protegia-se por detrás de um grande escudo de bronze. Um
espartano que fugisse perante o inimigo ficava desonrado para sempre. Do mesmo
modo, aquele que regressasse vivo depois de uma derrota ficava exposto ao
desprezo geral.
Carl Grimberg, História Universal, vol.2 (adaptado)
Curiosidades:
ü
Os Espartanos gostavam de se referir ao seu
território como Lacónia ou Lacedemónia. Era daí que vinha a letra "lambda" nos
seus escudos (Λ / λ)
ü
Os reis de Esparta estavam sujeitos às mesmas
leis que todos os espartanos. Eles podiam ser castigados pelo modo como
chefiaram o exército em combate.
ü
As mulheres espartanas eram as mais livres de
toda a Grécia (e do mundo?) porque:
· Recebiam
uma educação artística e atlética.
· Eram
encorajadas a desenvolver as suas capacidades mentais.
· Possuíam
mais de um terço das terras de Esparta.
· Havia
menor diferença de idades entre maridos e esposas do que entre os casais
atenienses, por exemplo.
· A
mulher casava com o marido que quisesse: os pais nada lhe impunham.
· Como
os homens raramente estavam em casa, as mulheres é que eram responsáveis por
todos os assuntos (fora os militares)
· Quando
havia guerra, eram as mulheres que governavam a pólis.
· As
mulheres cuidavam dos filhos até aos 7 anos. Os pais desempenhavam um papel
pouco importante, ou mesmo nenhum.