terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

 ESPARTA: UM ESTADO MILITAR


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 Rio Eurotas                                                            Mapa do Peloponeso/ Esparta                         Cordilheira do Taígeto
 (a fotografia do Taígeto foi retirada daqui, onde podes ver mais fotografias. Clica sobre o sublinhado)

Esparta está situada no alto vale do rio Eurotas. (…) Foi, outrora, a mais poderosa cidade helénica. Não eram, porém, as muralhas que constituíam a sua força – pois Esparta não as tinha –, mas sim a coragem e a unidade dos seus cidadãos. (…)

1. a sociedade
Os Espartanos reservaram para si o rico vale do Eurotas e dividiram-no em parcelas iguais, que não podiam ser mais divididas; quando um homem tinha mais de um filho, todos eles herdavam do domínio indiviso. (…)
O Espartano não se preocupava com trabalhar a sua terra. O trabalho necessário à sua manutenção e à da sua família estava reservado aos hilotas. Tem-se dito que os hilotas eram escravos; mas não o eram, de facto, no sentido habitual do termo. É verdade que cada hilota tinha um senhor, mas este senhor não era o seu possuidor; o senhor não podia vender o hilota, expulsá-lo, matá-lo ou maltratá-lo; também não podia libertá-lo Com efeito, os hilotas eram propriedade da nação, uma espécie de servos do Estado, postos à disposição de particulares para o trabalho da terra. O hilota não estava ligado a um proprietário mas, à terra. Não podia deixar a terra, mas também não podia ser dela expulso. A sua sorte era nitidamente melhor que o do escravo. Podia possuir a sua casa, viver com a sua família no pedaço de terra que era encarregado de cultivar, mas todos os anos era obrigado a fornecer ao proprietário uma determinada quantidade de trigo, vinho e azeite.
Têm-se escrito terríveis relatos sobre a crueldade dos espartanos para com os hilotas. Estes seriam, por exemplo, forçados a embriagar-se, para que isso servisse de lição de continência para os jovens espartanos; de tempos a tempos organizar-se-iam, também, caçadas em que o hilota era a caça. Não há dúvida de que os espartanos tratavam os seus subordinados com crueldade e dureza – mostravam, aliás, a mesma dureza para consigo próprios. (…)
O espartano considerava o artesanato e o comércio indignos de si, exactamente como o trabalho da terra. A lei proibia-lhe formalmente ganhar a vida com o seu trabalho; devia consagrar-se inteiramente à actividade das armas e à política. Eram os periecos que exerciam as funções de artífices e de mercadores. No entanto, o comércio limitava-se quase por completo à província da Lacónia, baseando-se na troca directa, sendo o dinheiro quase desnecessário.

2. a educação
 As leis e a organização social de Esparta tinham como finalidade criar guerreiros: o Estado dispunha do jovem espartano desde o dia do seu nascimento. Quando uma criança nascia, os pais apresentavam-na a funcionários que avaliavam se a robustez do recém-nascido valia o esforço que a sua educação exigiria. Se não valesse, a criança seria abandonada no Taígeto.
Aos sete anos, o rapaz era retirado aos pais, para que estes o não estragassem com mimos. O Estado encarregava-se, então, da sua educação. As crianças eram agrupadas sob as ordens de homens novos e hábeis. Deveriam exercitar-se todos os dias na luta, na natação, nas corridas, no lançamento do dardo e noutros desportos que preparassem para o combate. Logo que se oferecia a oportunidade, esses homens levavam os rapazes a lutar uns com os outros. Estes deviam treinar-se e suportar a dor, a fome e o frio sem o menor queixume. Não usavam sapatos, a fim de endurecerem os pés. Todos os dias do ano eram obrigados a nadar no Eurotas. Não andavam mais agasalhados no Inverno do que no Verão. Mais tarde levavam-nos, uma vez por ano, perante o altar de Artemisa para lhes baterem até fazer sangue; não foram poucos os jovens espartanos que morreram sem um queixume, sob o chicote. Os jovens recebiam uma alimentação muito simples e quase sempre insuficiente, mas estavam autorizados a roubar para matarem a fome. Quem fosse apanhado em flagrante delito de roubo era sovado – não por causa do roubo, mas por se ter deixado apanhar. Este método pretendia ensinar aos rapazes a manha e os estratagemas engenhosos que lhes viriam a ser necessários quando tivessem que combater.
A educação intelectual do jovem espartano compreendia um pouco de leitura e de escrita. Mas ele aprendia sobretudo a “dizer muita coisa em poucas palavras”. Ainda hoje se chama lacónico a este modo de falar. Existem vários exemplos célebres de respostas lacónicas. Um ateniense que ridicularizava os Espartanos por causa das suas espadas curtas ouviu como resposta: «Têm o comprimento suficiente para atingir os nossos inimigos.» Filipe da Macedónia, que queria submeter toda a Grécia, disse um dia ao embaixador de Esparta: «Se eu entrar em Esparta, não deixarei pedra sobre pedra.» «Sim», respondeu o espartano, «se…»

3. o dia-a-dia
 O espartano de 20 anos era considerado apto a pegar em armas. Começava nessa altura a sua educação militar; o serviço militar só terminava aos 60 anos. Os jovens eram educados em grupo. Do mesmo modo, os homens viviam em tendas, em grupos de 15. Segundo o modo de ver espartano, os homens casados pertenciam ao Estado antes de pertenceram à sua família. Viviam juntos em campos de tendas e aí tomavam as suas refeições, famosas pela sua frugalidade. O célebre “caldo negro” era feito com toucinho, sangue, vinagre e sal. Todas as actividades dos espartanos convergiam para um único fim: estarem prontos para a guerra. A sua cidade era um campo militar. Os próprios prazeres eram de natureza bélica. A única distracção que se podiam permitir era a caça.
Um treino tão severo fez dos espartanos os melhores soldados de infantaria de toda a Grécia. Quando soava a a trombeta da guerra, o exército de Esparta, composto por cidadãos-soldados fortemente armados, os hoplitas, avançava no campo de batalha. O hoplita ia armado de lança e de um pesadíssimo sabre. Usava elmo, couraça e escarcela e protegia-se por detrás de um grande escudo de bronze. Um espartano que fugisse perante o inimigo ficava desonrado para sempre. Do mesmo modo, aquele que regressasse vivo depois de uma derrota ficava exposto ao desprezo geral.

4. a mulher
 Os espartanos deviam casar-se com mulheres capazes de dar à luz crianças robustas. Para preparar as raparigas para o seu papel de mães, também se lhes dava uma educação severa, destinada a endurecê-las. Participavam igualmente em competições desportivas. Os atenienses sorriam da falta de feminilidade das mulheres espartanas. Quando um filho partia para o combate, a mãe estendia-lhe o escudo dizendo: «Regressa ou com o escudo ou em cima dele!». Era o mesmo que dizer: «Vence ou morre!» Um dia, um mensageiro veio dizer a uma espartana que o seu filho tinha morrido em combate. As primeiras palavras da mãe foram: «Alcançou ele a vitória?» Em face da resposta afirmativa, prosseguiu: «Então, sinto-me feliz!» Em Esparta a mulher tinha uma vida mais livre do que em todas as outras polei gregas.

Carl Grimberg, História Universal, vol.2 (adaptado)


Curiosidades:

ü   Os Espartanos gostavam de se referir ao seu território como Lacónia ou Lacedemónia. Era daí que vinha a letra "lambda" nos seus escudos (Λ / λ) 
 ü   Os homens espartanos sós estavam autorizados a viver com as esposas depois dos 30 anos. Eles podiam casar-se antes (ou viver juntos), mas como todos os homens eram obrigados a viver nas tendas militares até aos 30, os casais que se tivessem casado antes eram obrigados a viver separados.
ü   Os reis de Esparta estavam sujeitos às mesmas leis que todos os espartanos. Eles podiam ser castigados pelo modo como chefiaram o exército em combate.
 ü   As mulheres espartanas eram famosas pela sua beleza. Também eram mais altas do que a maioria das gregas (talvez porque não fossem preteridas na alimentação em favor dos rapazes)
 ü   As mulheres espartanas eram as mais livres de toda a Grécia (e do mundo?) porque: 
·   Recebiam uma educação artística e atlética.
·   Eram encorajadas a desenvolver as suas capacidades mentais.
·   Possuíam mais de um terço das terras de Esparta.
·   Havia menor diferença de idades entre maridos e esposas do que entre os casais atenienses, por exemplo.
·   A mulher casava com o marido que quisesse: os pais nada lhe impunham.
·   Como os homens raramente estavam em casa, as mulheres é que eram responsáveis por todos os assuntos (fora os militares)
·   Quando havia guerra, eram as mulheres que governavam a pólis.

·   As mulheres cuidavam dos filhos até aos 7 anos. Os pais desempenhavam um papel pouco importante, ou mesmo nenhum.

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