domingo, 25 de maio de 2014

O URBANISMO ROMANO



ANTES DE MAIS...

Os romanos tinham três palavras para designar "cidade". Para aqui, interessam-nos duas: CIVITAS (povoação grande) e URBS (conjunto dos habitantes da cidade; a própria cidade). Pensa na quantidade de palavras portuguesas que nasceram de cada uma dessas palavras (étimos) latinas!
Quem vive na cidade partilha um espaço que deve ser organizado e obedece a regras que permitem a vida em comum. O espaço da cidade romana era organizado e planificado, de modo a facilitar a vida dos cidadãos.

Apresento, aqui, a planta-tipo de uma cidade romana: não corresponde a nenhuma urbe em especial, mas respeita o conjunto de regras que o urbanismo romano foi desenvolvendo ao longo de mil anos de História.
Como se pode observar, a urbs está rodeada de uma muralha (com torres de vigia) e tem planta rectangular. A cidade divide-se em módulos, separados entre si por ruas paralelas de dimensões iguais. Duas ruas, no entanto, têm dimensões maiores: o Cardo (sentido N-S) e o Decumanus (sentido E-O), desembocando cada uma delas nas quatro portas da cidade. No local em que estas duas ruas se cruzam fica o fórum e o mercado, ou seja: os espaços e edifícios mais importantes.

As dimensões dos módulos em que se divide a cidade determinam o tamanho dos espaços públicos. Assim, por exemplo, o mercado corresponde a um módulo. Apesar destas regras, ao longo do tempo surgiram construções tão grandes que as contrariam, sobretudo em Roma.

A monumentalidade e a utilidade são as características essenciais das construções romanas. Ficam aqui alguns exemplos disso .



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Corte das termas de Caracala (Roma)

Como podes ver, as termas são espaços onde os romanos podem encontrar tudo quanto precisam: escritórios, lojas, bibliotecas, restaurantes e, obviamente, também as piscinas para os três banhos: “caldarium” (banho quente); “tepidarium” (banho morno, tépido) e “frigidarium” (banho frio). Naturalmente, não podiam faltar as salas para as massagens! Sabiam viver muito bem, estes romanos!

Termas romanas de Bath (Inglaterra)
Ponte romana de Chaves
A ponte romana de Chaves foi mandada construir pelo imperador Trajano, no final do séc. I / início do séc. II. Mede cerca de 150 m e tem 12 arcos.







Arco de Sétimo Severo.


Foi construído em 203 para comemorar o décimo aniversário da subida ao trono deste imperador. Os baixos-relevos contam as suas vitórias na Pártia (Pérsia: Irão e Iraque) e na Arábia. O texto da dedicatória destinava-se aos filhos do imperador, Caracala e Geta, mas quando Caracala se tornou imperador mandou apagar o nome do irmão.






Coluna de Trajano
. Foi erigida em Roma em 113, para celebrar a vitória do imperador na Dácia. Mede 30m de altura e no cimo foi colocada uma estátua enorme do imperador. Dentro do pedestal em que assenta a coluna estão as cinzas do próprio Trajano.

No pormenor podem ver-se algumas bandas dos relevos. Cada uma delas mede cerca de 1,30m.

Na página maquettes historiques podes divertir-te a ver reconstituições de Roma antiga. É uma página em francês, mas as imagens são magníficas.

O MODO DE VIDA EM ROMA

1 – HABITAÇÃO

1.1 - Domus
As pessoas poderosas de Roma viviam em casas particulares, as domus.




Na domus, à excepção do átrio (atrium) cada divisão tinha uma função específica. Assim:

A entrada – fauces – dá acesso a um pequeno espaço, o vestibulum, atrás do qual se abre o atrium que é o espaço central da domus. A sua abertura superior (compluvium) permitia a entrada da água da chuva que caía num pequeno tanque (impluvium), ligado a uma cisterna destinada a armazenar essa água. Num recanto do atrium fica o lararium , altar destinado ao culto doméstico.

O atrium fornece a luz necessária às divisões que o circundam, nomeadamente, o triclinium utilizado para as refeições do dia-a-dia e o tablinum, escritório do dono da casa, utilizado como sala de reuniões com pessoas que não fossem da família.

Um pequeno corredor liga o atrium ao peristylium – segundo pátio interior. Como o nome indica, estava rodeado de colunas e era embelezado com arbustos, flores, estátuas, etc. Junto ao peristilo estão os cubicula (cubiculum: quarto de dormir), a exedra (sala destinada aos banquetes) e também os banhos, apenas nas casas mais ricas. Muitas casas ainda tinham um segundo jardim.

Como já deves ter reparado, a casa romana está toda voltada para o interior. A entrada de serviço fazia-se pelo posticum. À entrada de algumas domus havia tabernae (sing.: taberna) que eram lojas do dono da casa que aproveitava para, nelas, vender os produtos das suas propriedades rurais.

O mobiliário romano era escasso, mas isso era compensado pela riqueza dos materiais com que a casa era construída e decorada: chão de mosaico (aquecido por um sistema de aquecimento central) paredes de mármore ou decoradas com belas pinturas.


1.2 – Insulae

A maioria dos romanos habitava em apartamentos arrendados (cenacula) em prédios de habitação: as insulae. Como podes ver pela imagem, o aspecto exterior não era nada mau, mas…


Varandas e janelas sem vidros arejavam o interior; não havia chaminé nem cozinha (cozinhava-se em fogareiros e os moradores aqueciam-se com braseiras); não existia água nos andares (e alguns destes prédios chegavam a ter sete andares!) e, naturalmente, os mais pobres sujeitavam-se a morar nos andares de cima. O preço da renda subia constantemente. O rés-do-chão de cada insula era ocupado por lojas, também arrendadas pelo proprietário.

Pelas características destas habitações, o perigo de incêndio era constante, para já não falar nas doenças provocadas pela falta de higiene.

Roma: da Monarquia à República

Roma foi uma monarquia desde a sua fundação por Rómulo (em 753 a.C., segundo a lenda). Em data incerta, porém, o território romano foi invadido pelos etruscos, povo vizinho, cuja civilização era notável para o tempo, mas cujos reis exerceram uma verdadeira tirania sobre os Romanos que sempre os consideraram estrangeiros, durante os cerca de 100 anos que durou o seu domínio. Sobre o último desses reis podes ler o texto que se segue, baseado nas palavras de Tito Lívio, importante historiador romano do séc. I a.C.


Tarquínio (1), o Soberbo, segundo Tito Lívio

“O filho de Tarquínio, o Velho, casara-se com a ambiciosa Túlia, filha de Sérvio Túlio. Impaciente por suceder a Sérvio, [Tarquínio] procurou rodear-se de senadores (2), seduzindo uns e comprando outros. Quando o momento lhe pareceu propício, correu ao fórum (3) com os seus guarda-costas, entrou na Cúria (2), sentou-se no trono real e ordenou que se convocassem os senadores que acorreram, temerosos. Quando Sérvio chegou, furioso, Tarquínio agarrou-o e atirou-o pela escada abaixo e depois mandou os seus guardas assassinarem-no. Para cúmulo dos horrores, Túlia, que chegava de carro, saudou primeiro o seu marido com o título de rei e depois, encontrando no caminho o corpo de seu pai, esmagou-o com o carro, salpicando-se com o seu sangue. Por causa disso, a rua ficou a chamar-se Via Celerada.

Foi assim que começou o reinado de Tarquínio, o jovem. Chegado ao trono pela violência, governou pelo medo. Recusou-se sempre a consultar o Senado (1) ou o povo para administrar o Estado, para declarar a guerra ou decidir a paz e assinar tratados. Chamando a si o papel de juiz, mandou exilar ou matar muitas pessoas que lhe desagradavam ou às quais queria confiscar a fortuna. Roma, aterrorizada, chamava-lhe, secretamente, o Soberbo, quer dizer, o orgulhoso.”
(Versão livre minha)


(1) Tarquínio, o Soberbo, foi o último rei de Roma. Os seus antecessores foram: Tarquínio, o Velho (seu pai) e Sérvio Túlio (seu sogro). O filho de Tarquínio, o Soberbo, depois de ter brutalizado a esposa de um oficial que estava em campanha, teve de fugir perante a cólera do povo de Roma. A revolta dos romanos estendeu-se ao próprio rei a quem expulsou, instalando a república. Isto aconteceu no ano de 509 a.C.

(2) Senadores são os membros do Senado que é uma assembleia constituída por antigos magistrados. Os senadores eram, por isso, pessoas mais velhas e sensatas e a sua opinião era sempre tida em conta. O Senado reunia-se num edifício próximo do forum, chamado a Cúria. Os senadores davam a sua opinião depois de o presidente lhes passar a palavra e falavam do seu lugar. Depois votava-se. A decisão do Senado (ou melhor, o conselho) era o senatus-consultae.

(3) O Forum era um local de comércio mas, acima de tudo, era o centro da vida política e religiosa. Lá estavam os principais espaços ou edifícios políticos, mas também importantes templos e tribunais (basílica), como podes constatar, observando a planta que se segue. Nota: na basílica, além de julgamentos, fazia-se comércio e realizavam-se reuniões políticas





Para que a observação seja completa é preciso dizer que o Comiticum era um espaço de reunião dos Comícios que eram assembleias populares de grande importância, sobretudo durante a República. A Cloaca máxima era, como o nome indica, a principal via de escoamento dos esgotos de Roma, em direcção ao rio Tibre. Curiosamente, os romanos devem-na aos reis etruscos.




Depois de expulsarem o último rei, os romanos nunca mais quiseram ouvir falar em monarquia. Alguém é capaz de dizer porquê? Todas as explicações são bem-vindas à caixa de comentários!